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Marcelo Alves é o tema da exposição na Casa Ziraldo de Cultura |
Marcelo Alves é homenageado em exposição
na Casa
Ziraldo de Cultura
CARATINGA
– Fortaleza, 24 de setembro de 1995.
Botafogo e Flamengo duelam pela nona rodada do
Campeonato Brasileiro no gramado do Castelão. A partida
é transmitida ao vivo pela Rede Globo. O Botafogo tinha
bom time, mas vinha com uma campanha de altos e
baixos. Derrotou Corinthians e Grêmio, mas tinha perdido
para o Bragantino e empatado, em casa, com o Juventude.
O Flamengo não vinha convencendo e considerou este
jogo como sua arrancada. O ataque era formado por
Sávio, Romário e Edmundo. Diante de 75 mil pessoas,
Túlio Maravilha, aos 22min do primeiro tempo, fez 1 a 0
para o Botafogo. Gonçalves ampliou aos 13min da
segunda etapa. Aos 41min do templo complementar,
Edmundo diminuiu o placar, deu esperanças aos rubro-
negros e o time da Gávea partiu para cima do Botafogo.
Mas aos 46min, Túlio deixou de calcanhar, o meio-
campista Marcelo Alves, camisa 15, que entrara no
decorrer da partida, tirou do adversário e mandou a bola
para o fundo das redes do goleiro Paulo César Borges.
Final: Botafogo 3 x 1 Flamengo. Esse foi o passo mais
importante para que a equipe de General Severiano
ganhasse confiança e conquistasse o campeonato
brasileiro daquele ano.
O caratinguense Marcelo Alves fez parte daquele grupo
vencedor e entrou para a história do time da Estrela
Solitária; história essa que é muito rica e tem nomes como
Heleno de Freitas, Garrincha, Didi, Nilton Santos, Gerson
e Quarentinha.
Agora Caratinga homenageia Marcelo Alves. Sua
trajetória futebolística esta sendo mostrada na Casa
Ziraldo de Cultura na exposição ‘Marcelo Alves – O nosso
campeão brasileiro’.
“É uma grande honra ser homenageado em nossa terra. Ser
reconhecido pelo trabalho que fiz. Agora estou revivendo
tudo, como a alegria de ter jogado com grandes jogadores,
caso de Bebeto, Túlio, Gonçalves, Wilson Gottardo e
poder jogar em palcos como Maracanã e Morumbi. Foi um
sonho de criança que pude realizar. Consegui jogar num
grande clube, consegui títulos. Hoje sou lembrado nas
redes sociais por esses feitos”, comenta o homenageado
num tom de voz que mistura emoção e orgulho de um
passado vencedor.
Marcelo Alves agradece ao Produtor Cultural Edra, diretor da Casa Ziraldo de
Cultura não só pela homenagem, como também pelo
resgate de muitos fatos ligados a história caratinguense.
“É muito bacana o trabalho que o Edra esta fazendo à
frente da Casa Ziraldo de Cultura, resgatando essa história.
Já tem 19 anos que fui campeão brasileiro. Isso também
serve também para informar o pessoal de Caratinga que,
às vezes, nem sabe que tem um conterrâneo campeão
brasileiro de futebol”.
DO TERREIRO DE CASA PARA O MARACA
Quando criança Marcelo Alves tinha o sonho de ser
jogador de futebol. Ele jogava bola no terreiro de sua casa
e imaginava ser um astro do futebol. “Todo menino faz
isso. Na hora da pelada, diz que é o ídolo dele. Sempre
sonhei em ser jogador de futebol profissional, só não
esperava chegar aonde cheguei. Fui mais longe do que
esperava”, revela Marcelo Alves.
E o sonho começou a se tornar realidade em 1990, quando
Carlinhos Careca, de Santa Rita de Minas, levou Marcelo
Alves para fazer um teste no Democrata, de Governador
Valadares. Quem assistiu este teste foi técnico Barbatana
(N.E.: Nascido em Ponte Nova, João Lacerda Filho,
o ‘Barbatana’, teve sua carreira ligada ao Atlético
Mineiro. Em 1977, ele dirigiu o time que foi vice-campeão
brasileiro). Marcelo Alves foi o destaque do teste.
Quando acabou o treino, Barbatana falou para o diretor do
Democrata: “vocês vão ficar com aquele garoto? Se não
forem ficar com ele, vou levá-lo comigo. Ele tem nível
pra jogar no Atlético ou no Cruzeiro”. Após ouvir essas
palavras, o diretor do time valadarense tratou logo de pedir
a documentação de Marcelo Alves e inscrevê-lo.
Quando as portas se abriram, Marcelo Alves recorda
que ficou receoso. A saudade da família poderia ser um
problema. “Na hora surgiu àquela dúvida. Era longe de
casa e tive certo receio. Acabei ficando e o Barbatana foi
quem me apadrinhou. Joguei apenas um ano no júnior e
depois subi para o profissional”, relembra Marcelo Alves.
No Democrata, Marcelo Alves foi quatro vezes campeão
mineiro do interior. Sua estreia foi no Campeonato
Mineiro de 1991 contra o Atlético Mineiro. Sergio Araújo
marcou o gol do Galo, enquanto Marcelo Alves empatou a
partida, anotando logo seu primeiro jogo oficial.
Em 1995, jogando a Copa do Brasil pelo Democrata,
Marcelo Alves despertou o interesse de um empresário
que o levou para o Botafogo de Futebol e Regatas.
No time da Estrela Solitária, o caratinguense, além do
Campeonato Brasileiro de 1995, ajudou o clube a vencer o
Campeonato Carioca de 1997 e o Torneio Rio-São Paulo
de 1998. O título internacional conquistado por Marcelo
Alves foi em 1996, quando o Botafogo venceu o Troféu
Teresa Herrera, disputado em Coruña, Espanha. Na final,
a equipe brasileira derrotou, nos pênaltis, a poderosa
Juventus de Turin, então campeã da Champions League,
após um empate em 4 a 4 no tempo normal e prorrogação.
Nesta partida, Marcelo Alves teve a oportunidade de jogar
contra nomes renomados do futebol mundial, caso do
francês Deschamps e dos italianos Del Piero e Vieri.
Marcelo Alves conta como foi sua chegada ao Botafogo.
“O Paulo Autuori estava assumindo o Botafogo. Ele
reuniu o grupo e colocou o objetivo de ser campeão
brasileiro. Estava montando o time para esse feito.
Donizete Pantera e Gonçalves chegaram na mesma época.
Então criou-se uma família visando o título de campeão
brasileiro”, pondera.
Para Marcelo Alves, não tem como esquecer o 24 de
setembro de 1995. Ele classifica o jogo contra o Flamengo
como crucial para a conquista alvinegra. “Este jogo foi
inesquecível pra mim. Vencemos a partida e ganhamos
convencendo. Então, o treinador Paulo Autuori pegou
aquele jogo como parâmetro para darmos sequência ao
campeonato. O time cresceu, o conjunto ficou mais forte e
culminou com a gente levantando o troféu de campeão”.
Após 27 jogos, com 14 vitórias, nove empates e quatro
derrotas, no dia 17 de dezembro de 1995, o Botafogo de
Futebol e Regatas sagrou-se campeão brasileiro diante do
Santos.
Em 1999, Marcelo Alves foi emprestado ao Joinville.
Depois jogou no ABC de Natal (2000), Brasiliense
(2001) e Olaria (2002 e 2003).
Ele também defendeu o
Sampaio Corrêa. Após contusões que prejudicaram o
seu desempenho em campo, Marcelo Alves deixou os
gramados.
VIDA APÓS O FUTEBOL
O ex-jogador e, hoje, comentarista Paulo Roberto Falcão
disse que “o jogador de futebol morre duas vezes. A
primeira, quando para de jogar”. Marcelo Alves concorda
com Falcão e conta como foi sua experiência ao findar
a carreira de jogador de futebol profissional. “É uma
declaração feliz. Ficamos meio blindados no mundo do
futebol, pois temos uma vida com certa fartura e não nos
preparamos para podermos encerrar a carreira. Nossa vida
profissional vai seguindo e deixamos nos levar. Então, não
percebemos que tá chegando o final da carreira. Muitas
vezes ouvimos: ‘isso não dura pra sempre’, mas não nos
preparamos. Então, quando encerramos a carreira, finda
um ciclo, pensamos: acabou, morreu”, relata o ex-jogador.
Para não sentir saudades dos gramados, Marcelo Alves
ficou três anos sem ir aos estádios. Foi uma espécie
de ‘desintoxicação’. “Tive que fazer isso para poder
voltar à vida normal. Existem casos onde jogadores,
após encerrar a carreira, tem depressão ou entram no
alcoolismo e nas drogas. Temos que aproveitar nosso
tempo. A idade chega pra todos. Acho que dos 32 anos pra
frente, o jogador deve se preparar, porque ali começa o
final de sua carreira”, aconselha Marcelo Alves.
Hoje Marcelo Alves mora em Caratinga, onde é
comerciante.
No livro Bem-Vindo ao Clube (2001), lançado no
Brasil pela Editora Record, o autor inglês Jonathan
Coe escreveu: “Imagino se toda existência pode ser
mesmo destilada até restarem alguns poucos momentos
extraordinários, talvez seis ou sete deles, concedidos
a nós durante a vida inteira”. Pelo jeito Marcelo Alves
teve mais sorte do que a maioria dos mortais, ele tem
vários ‘momentos que valem uma vida’. Mais do que
isso, ele entrou para história de um time e sua apaixonada
torcida. Isso é para poucos.
FICHA TÉCNICA DO JOGO HISTÓRICO
FLAMENGO 1 X 3 BOTAFOGO
Local: Castelão, em Fortaleza (CE)
Data: 24/09/1995 (domingo)
Árbitro: Dacildo Mourão
Cartões amarelos: Agnaldo Liz, Róbson Lopes e Nélio
(Flamengo); Wilson Gottardo, Gonçalves, Beto, Donizete
e Túlio Maravilha (Botafogo)
Cartão vermelho: Não houve
Gols: Túlio Maravilha, aos 22min, Gonçalves, aos 58min,
e Marcelo Alves, aos 91min (Botafogo); Edmundo, aos
86min (Flamengo)
FLAMENGO: Paulo César Borges; Márcio Costa
(Uéslei), Ronaldão, Agnaldo Liz e Cláudio (Róbeson
Lopes); Nélio, Leonardo Inácio (Rodrigo Mendes), Pingo
e Sávio; Romário e Edmundo.
Técnico: Washington Rodrigues.
BOTAFOGO: Wagner; Wilson Goiano, Wilson Gottardo,
Gonçalves e André Silva; Leandro Ávila (Marcelo Alves),
Beto (Márcio Theodoro), Jamir e Sérgio Maonel; Donizete
(Narcizio) e Túlio Maravilha.
Técnico: Paulo Autuori.
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Exposição estará em cartaz até 30 de agosto |
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Edra e Marcelo Alves
Fonte: Diário de Caratinga (Texto: Horta / Fotos: Wilson Martins)
- Edição de 27/07/2014
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